terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Estação das Chuvas - José Eduardo Agualusa

Estação das chuvas, do escritor angolano José Eduardo Agualusa, reproduz a investigação do narrador, que é um jornalista, sobre a vida da poeta e historiadora angolana Lídia do Carmo Ferreira que desapareceu misteriosamente no recomeço da guerra civil angolana, em 1992.
O livro começa à meia-noite de 11 de novembro de 1975, quando o povo comemora a independência de Angola e Lídia acorda sonhando com o mar, que segundo sua avó Nga Fina, sonhar com o mar é sonhar com a morte.
Neste livro os limites entre ficção e realidade se misturam a tal ponto que o leitor não consegue saber até onde vai a realidade e onde começa a ficção, e virse-versa.
O narrador, que se correspondeu com Lídia do Carmo Ferreira enquanto ambos estavam na prisão, sai em busca de seu paradeiro, fazendo entrevistas com personagens, coletando informações e completando as lacunas com suposições, já que ele mesmo admite: “É assim, pelo menos, que imagino a cena (eu não estava lá)”.
Na narrativa se apresentam citações de jornais, depoimentos, entrevistas, etc., o que só ajuda a confundir o leitor sobre o que é ficção ou realidade. Narra-se os fatos desde antes da independência de Angola, em 1975, até o desaparecimento de Lídia do Carmo Ferreira em 1992. Mostrando o engajamento político da poeta, assim como diversos escritores de Angola que fundaram o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola).
A escrita é fácil, porém apresenta várias siglas de diferentes partidos e organizações, deixando a leitura mais lenta. Também apresenta vários personagens e situações que muito nos lembra o realismo maravilhoso e que me fez lembrar as histórias contadas por minha avó e bisavó.
“Lídia pensou nas estórias de assombrações e cazumbis que a velha Fina costumava contar. Uma, especialmente, a trazia em sobressalto: a das feiticeiras cujas línguas se soltam dos corpos, iam de rastos pela noite, entravam nas casas e atacavam as crianças adormecidas, estrangulando-as. A velha Fina contava que há muitos anos uma sua amiga, ainda moça, acordara de noite, vira ao pé da cama uma destas línguas e a matara a golpes de machete. No dia seguinte, descobrira que sua mãe estava muda.”(p. 47)
Assim, em Estação das Chuvas temos a história de Angola narrada ao lado de histórias fantásticas, de forma que prende o leitor da primeira a última página.

"Estação das chuvas", José Eduardo Agualusa, Rio de Janeiro: editora Língua Geral (coleção Ponta de lança), 2a. edição, revista (2010), brochura 13x18 cm, 344 págs. ISBN: 978-85-60160-68-6 [edição original: edições Dom Quixote (Portugal) 1996]

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